Resumo Histórico
Introdução
Os primeiros registros sobre a ocupação do atual território de Americana indicam que ela antecede, de forma significativa, as primeiras concessões de sesmarias. Pesquisas apontam que a região do Rio Piracicaba era habitada por tribos indígenas autodenominadas Paianguás ou Painguás.
A história da formação do município de Americana tem se baseado nos trabalhos de dois memorialistas: Jolumá Brito e Celso Maria de Mello Puppo. Ambos mencionam que o município teria se originado a partir da doação de uma única sesmaria a Domingos da Costa Machado — conhecido como "o primeiro", devido à existência de vários descendentes com o mesmo nome. Essa sesmaria foi denominada Salto Grande.
Segundo outras publicações, datadas das décadas de 1980 e 1990, a Fazenda Salto Grande teria sido desmembrada, dando origem a outras duas fazendas denominadas Machadinho e Palmeiras. No entanto, de acordo com pesquisas em fontes primárias e estudos mais recentes, o território do atual município de Americana teria sido formado por três sesmarias distintas.
A primeira sesmaria, cuja doação data de 1796, foi o Sítio do Quilombo, concedido a Joaquim Teixeira Nogueira, Felipe Nery Teixeira e seus parentes. Anos depois, Felipe Nery tornou-se o único proprietário. Estudos indicam que ele possuía, em sua propriedade, 39 pessoas escravizadas.
A segunda sesmaria foi doada a Diogo de Toledo Lara, e mais tarde adquirida por Francisco de Paula Martins, que, ao falecer, deixou a propriedade como herança para sua esposa, Dona Margarida da Graça Martins — considerada fundadora de Santa Bárbara d’Oeste. Essas terras eram denominadas Engenho de Santo Antônio da Graça. O Engenho de Santo Antônio da Graça e o Sítio do Quilombo eram separados pelo Ribeirão Quilombo. Parte dessas terras mais tarde se uniria ao Sítio do Quilombo, formando a Fazenda Machadinho.
A terceira e última sesmaria foi doada a Joaquim Bernardo Gomes e Thereza de Camargo Penteado. As terras faziam referência à junção dos rios Atibaia e Jaguari, que formam o Rio Piracicaba, sendo denominadas Fazenda Salto Grande. Pesquisas indicam que, em 1875, a fazenda contava com um total de 368 cativos. Posteriormente à doação da sesmaria, a propriedade passou para a posse de Antônio de Camargo Penteado, irmão de Thereza e parente de Joaquim. Antônio faleceu em 1812, deixando essas terras para seu primogênito, José de Campos Penteado.
A criação da Companhia Paulista de Estrada de Ferro foi uma iniciativa dos chamados Barões do Café. A extensão da linha férrea entre o município de Campinas e a cidade de Rio Claro visava facilitar o escoamento de todo a produção do Oeste Paulista. A estação de Santa Bárbara, como era chamada inicialmente, foi inaugurada em 27 de agosto de 1875, com a presença de D. Pedro II e sua comitiva real.
Nesse período, com o loteamento de terras ao redor da estação — iniciativa do Capitão Ignácio Correa Pacheco, posteriormente seguida por Basílio Bueno Rangel — foi criado o primeiro núcleo urbano.
A imigração norte americana, a partir de 1866, marcou um período de desenvolvimento na agricultura, com o aprimoramento do cultivo do algodão, da educação e das atividades médicas e odontológicas. Esses imigrantes também introduziram o cultivo de melancias do tipo "Cascavel da Geórgia".
Os imigrantes italianos, que chegaram em 1887, contribuíram significativamente com o trabalho na lavoura e, posteriormente, na indústria têxtil. Foram responsáveis pela construção da primeira igreja de Americana, por volta de 1896.
É importante destacar a presença de pessoas negras na história da formação de Americana, inicialmente como mão de obra escravizada, como evidenciam pesquisas recentes que comprovam sua atuação desde as primeiras formações de fazendas, engenhos e, mais tarde, no desenvolvimento da indústria têxtil. Homens, mulheres e crianças negras lavraram as terras, empunharam o arado e teceram tecidos muito antes da chegada dos primeiros imigrantes norte-americanos e italianos à região. A população negra contribuiu não apenas para o enriquecimento dos donatários de terras, mas também para a formação socioeconômica, cultural e da identidade nacional.
Destacam-se também os imigrantes alemães, com sua mão de obra especializada — especialmente a família Müller, que, com uma visão socialdemocrata, idealizou a vila operária de Carioba nas primeiras décadas do século XX, impulsionando a industrialização do município e da região.
Na década de 1930, iniciou-se em Americana a modalidade de trabalho por facção, o que caracterizou o desenvolvimento da cidade com base em um grande número de pequenas empresas têxteis. Americana passou a ser conhecida como a Capital do Rayon, tornando-se um dos mais importantes polos têxteis do país.
Referências bibliográficas
Carioba
A Fábrica de Tecidos Carioba é considerada como berço da industrialização de Americana. Local de características ímpares por sua privilegiada situação geográfica, um recanto de rara beleza natural. Inaugurada em 1875, foi a primeira indústria têxtil da região. Seu nome tem origem tupi e significa “pano branco”. Vale destacar que ela está entre as três primeiras indústrias têxteis do Estado de São Paulo. A fundação da fábrica foi realizada pelos irmãos Antônio e Augusto de Souza Queiróz, em parceria com o norte-americano William Pultney Ralston, um dos engenheiros responsáveis pelo projeto da Fábrica de Tecidos São Luiz, em Itu, inaugurada em 1869.
Inicialmente, as Fábricas de Tecidos Carioba utilizaram mão de obra escravizada. Seus produtos eram, em grande parte, tecidos de algodão destinados à confecção de vestimentas para os cativos, sacos para o armazenamento de café e embalagem para outros artigos usados na fazenda. Em 1882, os ingleses Jorge e Clement Wilmot adquiriram as terras referentes à Villa Operária de Carioba, vindo a comprar nove escravizados pertencentes a Basílio Bueno Rangel e ao Capitão Ignácio Correa Pacheco. Essa transação foi realizada em 6 de maio de 1887 — apenas um ano antes da abolição da escravidão no Brasil.
Sob a direção de Jorge Wilmot, muitas famílias italianas passaram também a se estabelecer em Carioba. A indústria participou da Exposição Provincial de São Paulo em 1885, recebendo a medalha de prata por alcançar o segundo lugar na categoria “Fábrica de Tecidos de Algodão”. Contudo, após alguns anos, uma série de fatores — como a concorrência com o mercado externo, a abolição da escravatura e outras dificuldades econômicas — culminou no fechamento das fábricas em 1896.
Em 1901, as Fábricas de Tecidos Carioba foram leiloadas pelo Banco do Brasil e adquiridas pela firma Rawlisson Müller & Cia, representada pelo alemão Comendador Franz Müller. Ele e sua família fixaram residência em Carioba após a compra, assumindo a administração da vila operária.
Este proprietário, de origem alemã, transplantou para a localidade toda a concepção de urbanização baseada no estilo europeu que se materializou nas edificações das fábricas, residências patronais, hotel, escola, cooperativa e moradias dos operários. Carioba tornou-se, ainda, um polo de cultura e esporte, inspirado nos modelos de vilas operárias europeias e nos ideais higienistas da época.
Foi durante o período Müller que a Vila Operária de Carioba atingiu o auge de seu desenvolvimento têxtil, arquitetônico e paisagístico.
Carioba, ao lado da importante atividade têxtil que atraía a mão de obra dos imigrantes estabelecidos na região, oferecia também inúmeras possibilidades de educação e lazer em meio a uma intensa participação cultural. Tornou-se um cartão de visitas para numerosos visitantes tanto do Brasil como do Exterior.
Por várias décadas, foi o centro da atividade têxtil que depois se irradiou para a Vila Americana, principalmente a partir de 1940.
O acervo remanescente, que hoje é de propriedade do Poder Público Municipal, uma vez preservado, contará às futuras gerações um pouco de nossa história, resgatando para as pessoas que lá viveram um pouco "de seu paraíso".
Imigração Americana
A imigração norte-americana confederada para o Brasil, iniciada após o término da Guerra Civil Americana (1861–1865), foi amplamente incentivada pelo governo imperial brasileiro, cujo objetivo era promover o embranquecimento da população. Essa política favorecia e incentivava a vinda de pessoas brancas, principalmente europeias, com o propósito de estimular a miscigenação e substituir a mão de obra escravizada.
O primeiro a chegar foi o coronel William Hutchinson Norris, em 1866. Ex-combatente da Guerra Civil e ex-senador do estado do Alabama, Norris foi seguido por várias outras famílias, que adquiriram terras nos arredores da Fazenda Machadinho e em outras áreas que se estendiam até a região onde, atualmente, localiza-se o centro de Santa Bárbara d’Oeste. A escolha dessa localidade se deveu à fertilidade do solo, ideal para o cultivo — especialmente do algodão e de uma variedade de melancia conhecida como "melancia cascavel".
É importante ressaltar que esses imigrantes trouxeram consigo seus costumes e tecnologias agrícolas, consideradas para a época um avanço significativo. Construíram escolas e, em suas propriedades, também introduziram a mão de obra escravizada trazida do sul dos Estados Unidos.
A educação das crianças era uma das prioridades para as famílias americanas, que fundavam escolas em suas propriedades e contratavam professores vindos dos Estados Unidos. Os métodos de ensino desenvolvidos por esses educadores se revelaram tão eficientes que foram posteriormente adotados pelo sistema de ensino oficial brasileiro.
Os cultos religiosos eram realizados nas propriedades por pastores que se deslocavam entre os diversos núcleos de imigração americana. Em 1895, foi fundada a primeira Igreja Presbiteriana no povoado da Estação.
Devido à proibição do sepultamento de pessoas de outros credos nos cemitérios das cidades administradas pela Igreja Católica, os imigrantes americanos passaram a enterrar seus mortos próximos à sede de uma de suas fazendas. Esse local ficou conhecido como Cemitério do Campo. Até hoje, os descendentes das famílias americanas são ali sepultados. É nesse espaço que os descendentes se reúnem periodicamente para cultos religiosos e festas ao redor da capela, construída posteriormente ao cemitério.
O resgate da história dessas famílias e sua contribuição para o desenvolvimento das localidades de Americana e Santa Bárbara d’Oeste foi magistralmente relatado pela historiadora Judith Macknight Jones, em sua obra “O Soldado Descansa: uma epopeia norte-americana sob os céus do Brasil”.
Inauguração da Estação Ferroviária
O cultivo do café foi introduzido nas fazendas do Oeste Paulista por volta de 1835. Os chamados Barões do Café — grandes proprietários de terras e produtores de destaque — enfrentavam dificuldades para escoar suas colheitas, devido às limitações logísticas da época.
Naquele período, o transporte do café era realizado por meio de tropas de mulas e carroções de bois, que levavam a produção até a cidade de Jundiaí. A partir dali, o café era embarcado nos trens da companhia inglesa São Paulo Railway, inaugurada em 1867, com destino ao porto de Santos, de onde era exportado. No entanto, o transporte por longas distâncias causava danos significativos ao produto, o que motivou os barões a buscar soluções para encurtar o trajeto.
Diante da recusa da São Paulo Railway em estender seus trilhos até Campinas, os próprios cafeicultores fundaram a Companhia Paulista de Estradas de Ferro, cuja linha ligava Campinas ao município de Rio Claro.
Em 27 de agosto de 1875, foi inaugurada a Estação de Santa Bárbara, pela Companhia Paulista de Estradas de Ferro, com a presença de Dom Pedro II e sua comitiva real. A estação foi construída em terras pertencentes à Fazenda Machadinho, então de propriedade de Basílio Bueno Rangel. Essa inauguração é considerada o marco simbólico da fundação do município de Americana, cuja data é celebrada como aniversário oficial da cidade.
Basílio Bueno Rangel e o Capitão Ignácio Correa Pacheco são reconhecidos como os fundadores de Americana, por terem loteado suas terras para a formação do primeiro núcleo urbano no entorno da estação.
Com o tempo, e devido à presença marcante de imigrantes estadunidenses que se estabeleceram na região, a Companhia Paulista passou a se referir ao local como Villa Americana, por volta de 1900. No entanto, somente em 30 de julho de 1904 a localidade conquistou autonomia em relação à Vila de Santa Bárbara d’Oeste, sendo oficialmente elevada à categoria de município em 12 de novembro de 1924.
Além dos imigrantes confederados e, posteriormente, italianos, fixaram-se na região diversos outros grupos de origem europeia — como franceses, portugueses e espanhóis —, bem como imigrantes de outras partes do mundo, como japoneses e árabes. Esses povos também contribuíram para o crescimento da região, migrando posteriormente para outras vilas e desempenhando papel importante na formação histórica, econômica e cultural do município de Americana.
Fazenda Salto Grande
A historiografia dita oficial, por muito tempo, atribuiu a posse da Fazenda Salto Grande à família Teixeira Vilela. No entanto, pesquisas e publicações mais recentes apontam que essa propriedade sempre esteve sob domínio da família Camargo Penteado. Nesse sentido, o último proprietário da fazenda no período escravocrata, Francisco de Campos Andrade, teria herdado parte das terras de seu pai, José de Campos Penteado, e outra parte de sua tia e madrasta, Dona Anna Francisca de Andrade. Além disso, Francisco teria adquirido outras parcelas da fazenda pertencentes a seus parentes, consolidando-se como o maior proprietário dessas terras.
Para melhor compreensão do leitor, é importante destacar que, na ocasião da doação das sesmarias, as terras geralmente eram ocupadas como núcleos familiares, sendo inserida mão de obra escravizada para atuar nas lavouras, nos afazeres domésticos e em diversas outras funções ligadas aos engenhos.
Dito isso, Francisco de Campos Andrade manteve o sistema de exploração da mão de obra cativa, tendo herdado escravizados de seu pai e de sua tia-madrasta, que, ao falecer, possuía 368 cativos na Fazenda Salto Grande. Foi o major Francisco quem trouxe os primeiros imigrantes italianos para a fazenda, com o objetivo de substituir a mão de obra escravizada por trabalhadores assalariados.
Em 1907, a Fazenda Salto Grande foi vendida ao comendador alemão Franz Müller. A partir desse momento, sua história passou a se entrelaçar com a da região de Carioba. Assim como ocorreu com a vila operária de Carioba após sua demolição, a posse da casa-sede da fazenda foi transferida para o poder público.
Diante disso, é importante destacar que a casa-sede foi tombada como patrimônio histórico e arquitetônico de relevância pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (CONDEPHAAT), no ano de 1982. Em suas dependências, foi instalado o Museu Histórico e Pedagógico Municipal Dr. João da Silva Carrão, que abriga um vasto acervo.
Imigração Italiana
Durante o século XIX, os estados italianos atravessavam uma fase difícil devido à luta pela unificação da Itália, sendo que a anexação de Veneza, que pertencia à Áustria, e os Estados da Igreja trouxeram para essa unificação grandes distúrbios políticos e miséria para o seu povo.
Além desses problemas, havia um excesso de população, fazendo crescer no povo italiano o desejo de descobrir uma nova pátria, onde pudessem ter uma vida melhor e um enriquecimento mais rápido.
Começa então a imigração italiana para o Novo Mundo, trazendo consigo suas técnicas, sua arte, seus usos e costumes (que hoje se encontram aculturados na vida brasileira), sua fé, sua fácil adaptabilidade climática e, principalmente, a facilidade de miscigenação com brasileiros e outras nacionalidades.
Para o Brasil, a chegada desses imigrantes foi de grande valia, primeiro por causa da expansão do café, e segundo pelos problemas com o comércio de escravos, devido à pressão dos ingleses que estavam se industrializando e necessitavam de mercados consumidores – o escravo não consumia, daí quererem sua libertação.
Era um momento difícil. A solução para os fazendeiros de café era a mão de obra remunerada, no caso, o imigrante.
Os primeiros tempos foram muito difíceis para os imigrantes, pois coabitavam nas senzalas com os escravos negros, sem a mínima condição de higiene e conforto. Chegaram já em débito com o fazendeiro, a quem tinham que pagar as despesas de viagem, e também se submetiam ao "sistema de parceria", no qual eram bastante explorados, ficando quase sempre devedores nos armazéns da fazenda, até que esse sistema foi mudado por um ordenado fixo, um determinado número de pés de café e mais uma comissão.
Superaram tudo pela sua valentia, tornando-se posteriormente os industriais, comerciantes e, seus descendentes, profissionais liberais, sobrepujando todas as barreiras e restrições a eles impostas.
Em 8 de outubro de 1887, chegou ao Brasil o Sr. Joaquim Boer, chefiando uma grande comitiva de imigrantes italianos, que passou a residir na Fazenda Salto Grande, de propriedade do Sr. Francisco de Campos Andrade.
Relação de Famílias representadas por Joaquim Boer
Luiz Delben, Luiz Cia, Antonio Luchesi, Luiz Santarosa, Marcos Campari, José Faé, João Meneghel, Roviglio Bertini, Miguel Bertolo, Olivio Piloto, Luis Sacilotto, Pedro Mantovani, José Grazzi, Antonio Ravagnani, Celeste Trovó, Antonio Trombin, Humberto Casagrande, Vergilio Marsson, José Francescato, Virgilio Duaneto, Luiz Nardo, João Scarazato, José Tonhela, Cesar Casati, Natal Minarello, Paolo Dell'Agnese, José Rozalem, Felicio Seleghini, Antonio Altarujo, Paulino Salvador e Angelo Provedel.
Estas famílias trabalharam durante doze anos para o Sr. Francisco de Campos Andrade e foram obrigadas a morar nas senzalas até que foram construídas as suas casas. Elas se dedicaram ao cultivo do café (produto de exportação), da cana-de-açúcar para a fabricação de aguardente, dos cereais necessários para a sua alimentação e do início da cultura do arroz que, até então, era importado do Japão; plantavam hortaliças, criavam aves para o próprio consumo.
Por falta de pagamento e alimentação, dada a condição precária das finanças do Sr. Francisco de Campos Andrade, as famílias foram para Santa Rita, São Carlos e outras localidades, retornando após pedido do próprio fazendeiro, com a promessa de saldar suas dívidas com os imigrantes e melhores condições de vida para todos.
Transcorrido mais de um ano após o retorno das mesmas, a situação agravou-se novamente devido à participação da família Campos Andrade na política, com a consequente perda de grande parte dos seus bens. Dada a honestidade de Francisco de Campos Andrade, nenhum imigrante ficou prejudicado nos seus ganhos, dando-lhes em pagamento um pedaço de terra de acordo com os créditos de cada um (1899).
Assim, cada família começou a construir seu sítio, sendo essas as primeiras famílias a desbravarem as matas, dando início à lavoura, contribuindo assim para o progresso desta cidade de Americana.
Desde a chegada dos primeiros italianos e seus descendentes e de outros que aqui aportaram até os dias de hoje, a sua atuação e participação na vida pública, econômica, política, social e religiosa se faz sentir em cada momento, como presença constante em todas as atividades de nossa cidade.
O cultivo da terra, com sua produção, veio gerar riquezas em benefício de toda a coletividade, proporcionando uma diversificação nos diferentes setores da economia, como a indústria e o comércio.
Cemitério Campo
As famílias americanas que se estabeleceram na região de Santa Bárbara a partir de 1.866 ocupavam uma área de aproximadamente 400 quilômetros do atuais municípios de Santa Bárbara D’Oeste e Americana. Constituíram quatro núcleos principais de povoamento: Estação, Retiro, Campo e Funil.
Em 13 de julho de 1.867 faleceu Beatrice Oliver, esposa do Coronel Oliver que possuía uma fazenda no Campo, região sul de Santa Bárbara caminho para Capivari. A denominação Campo deriva do fato dessa área apresentar uma vegetação rala. O Coronel Oliver enterrou a esposa em uma área de pastagem, construindo uma cerca em volta da sepultura. Duas de suas filhas faleceram nos anos subseqüentes, sendo destinada uma área de aproximadamente um hectare para que as famílias americanas aí enterrassem os seus mortos.
Com a morte do Coronel Oliver, em 1873, a propriedade foi vendida a Irving Millerque, o qual continuou a preservar a área. O mesmo fizeram seus descendentes.
O Campo passou a ser o local para onde acorriam as famílias dos diversos núcleos para a realização de cultos religiosos, os quais eram oficializados por pastores como o Reverendo Junius Newman, metodista.
Em 1.871 iniciou-se a campanha para construção da primeira capela, e em 1.878 este velho sonho da comunidade foi realizado com a inauguração do primeiro templo que atendia as três denominações protestantes: Presbiteriana, Batista e Metodista.
O solo do Campo era instável e a capela teve que ser reconstruída várias vezes. A primeira capela de tijolos foi construída em 1.903. A construção atual data de 1.962.
Apesar dos cemitérios no Brasil terem sido abertos aos não católicos na última década do século XIX, as famílias americanas preservaram o Cemitério do Campo aí enterrando seus descendentes até os dias atuais.
O Campo passou a representar o centro da vida religiosa e social da comunidade.
Em 1.928 o Cemitério do Campo foi oficializado pela Prefeitura Municipal de Santa Bárbara; em 1954 a área foi doada pela família Bookwalter à Fraternidade Descendência Americana, responsável por sua preservação. Aí são realizadas reuniões quadrimensais e uma ampla reunião anual.
Nesta ocasião os descendentes das famílias americanas vestidos com uniformes confederados e as jovens com vestidos inspirados nos trajes do século XIX apresentam danças típicas do grupo. A festa, realizada no parque, em frente à Igreja, é uma oportunidade para entrosamento dos descendentes e a preservação de suas tradições.
Contribuição da População Negra na Construção da Cidade de Americana
Em 13 de maio de 1888, a Lei Áurea aboliu oficialmente a escravidão em todo o território nacional. O Brasil foi o último país da América Latina a extinguir essa prática, e Campinas — cidade da qual parte das terras que hoje formam Americana fazia parte — foi a última a registrar formalmente o fim do regime escravocrata.
Neste sentido, cabe ainda dizer que nenhuma política de inclusão desse contingente de pessoas recém-libertas foi implementada, deixando–as à margem da sociedade, sem trabalho e em condições precárias. Não se sabe qual destino teria tomado a maioria dessas famílias após a abolição, porém alguns permaneceram no território, como evidenciado em pesquisa.
Dito isso, é importante ressaltar que, nas narrativas históricas atuais do município, podemos evidenciar que os negros estiveram presentes desde o início das ocupações de terras nesta localidade, inseridos nos engenhos e na indústria como mão de obra escravizada. Essa população cativa foi fruto de um tráfico transatlântico de pessoas, comercializadas em todo território nacional.
Essa população não branca esteve inserida nos engenhos e fazendas muito antes da chegada dos imigrantes confederados e italianos, desempenhando papel essencial na conformação histórica, econômica e cultural da localidade. Essa contribuição, que a princípio era entendida como forma de resistência, pode ser encontrada na culinária, nos modos de fazer e expressar, na capoeira, no artesanato, no maracatu, nas religiões de matriz africana e entre tantas manifestações artísticas e culturais. Acima de tudo, essas manifestações são entendidas na atualidade como cultura puramente brasileira. A contribuição desses povos foi determinante para a construção da identidade sociocultural e para o desenvolvimento socioeconômico do município.
Reconhecer o protagonismo dessa população historicamente silenciada e valorizar sua participação na formação de Americana representa um passo fundamental rumo à construção de uma sociedade mais justa e igualitária, comprometida com o enfrentamento ao racismo e com a valorização da memória coletiva como instrumento de justiça histórica e social.